Rumo a uma sociedade global sem comunidades: O desafio das sociedades locais

O atual panorama global nos confronta com desafios monumentais quando se trata de compreender a verdadeira essência do cuidado abrangente pela esfera da vida. Estamos diante de uma nova era em que a sociedade do hiperconsumo e da hipercomunicação está esvaziando o significado de “comunidade“, outrora inspirado no valor social das relações e na diversidade que essas relações dinamizavam.

Dessa maneira, os lugares cidadãos começam a perder as principais premissas que lhe deram origem. Desde sua origem, surgem como espaços para que as pessoas se encontrem, se relacionem, façam negócios, construam amizades e relacionamentos. Como exemplo disso, poderíamos citar as ágoras gregas, no qual a população se encontrava para poder escutar os grandes filósofos e se enriquecer da sabedoria deles. No mesmo sentido, aparecem mais tarde, “burgos” medievais que  surgem como espaços para promover atividades de comércio, mas sem perder o sentido de se relacionar. E assim, poderíamos continuar com este relato até chegar a nossos tempos, no qual, as pessoas estão perdendo o valor de se reconhecer como seres sociais, e, portanto, estão substituindo as maneiras de vínculos da maneira concreta à virtual.

 

Surge, então, uma reflexão crucial: 

Sobreviverão as sociedades e comunidades locais conforme sempre as conhecemos, baseadas em um modelo socioeconômico que valoriza a acumulação de bens em detrimento do ser?

O cenário atual nos instiga à acumulação de objetos, mas paradoxalmente nos afasta cada vez mais das pessoas. Isso resulta em sintomas de exclusão, fragmentação, desperdício e insustentabilidade social.

Enfrentamos a dissociação que gera confrontos entre guetos de riqueza e extrema necessidade, ameaçando a identidade social e gerando anomia. É crucial lembrar a sabedoria dos povos ao longo da história, que enfatizaram a importância de construir contextos de relações físicas e humanas que promovam o vínculo humano, em contraposição ao atual serviço do objeto ao hiperconsumo.

O desafio é compreender a complexidade da realidade para encontrar soluções integrais e associativas. Os espaços de vida cidadã podem contribuir para fortalecer a ideia de comunidade, promovendo a unidade do coletivo sem perder a valorização da diversidade.

Sonhamos com uma cultura cidadã universal consciente da sustentabilidade e do cuidado pela vida íntegra na Terra. Princípios como uma economia ética, uma sociedade equitativa e recíproca, e uma governança participativa são fundamentais para promover essa consciência coletiva.

À luz disso, qual seria o verdadeiro sentido cidadão do social, não apenas neste século, mas ao imaginar nossas formas de “habitar” para o século XXII? Viver para habitar tem o mesmo significado que construir para transformar? São questões que deixamos para reflexão, diante da oportunidade que a realidade nos oferece para uma ruptura paradigmática.

Daniel Caporale