Caminho das comunidades para o Bem Coletivo
Guia de textos
Introdução
A partir do final do século XX, aparece o novo cenário global que vem se aprofundando até nossos dias. Um relato que esvazia a identidade territorial e, portanto, todas as questões vinculadas com a vida coletiva.
O grande desafio atual é tomar consciência dessa situação, fortalecendo o sentido de comunidade, construindo vínculos cidadãos, inspirados numa nova ética cívica que gostamos de denominar “a ética do bem coletivo nos territórios”.
Novo Cenário do Século XXI: o discurso local X o discurso global
Mundo Global
Comunidades Locais
As sociedades devem deixar de ser territórios de disputa da escassez de riquezas de uma minoria para se projetar na premissa de uma “sociedade da abundância” no contexto para todos.
Questão que deve partir dos valores íntegros de justiça social para as comunidades, as regiões, os países.
A ética do bem coletivo se inspira na ideia de que as sociedades têm capacidades diferentes que devem ser aproveitadas e potencializadas.
Por isso, a democracia continua sendo o melhor mecanismo para que os habitantes possam discutir seu futuro, porém, para que isso aconteça beneficamente para todos, deve ser construído um cenário que tenha como premissa fundamental; “a vida em comum com sentido cidadão”.
Da sociedade da escassez à sociedade da abundância
Sem barreiras injustas e com oportunidades para todos
- Cidades inteligentes ou com capacidades diferentes?
- Valor do mercado ou valor da ética do bem coletivo?
A comunidade insustentável, o Porquê
Produto do cenário existente, são as sociedades herdadas do sec. XX (periferias pobres e marginalização), inspiradas na sociedade do hiperconsumo e as inequidades sociais. Crueis consequências para o planejamento clássico que levam ao esvaziamento do território rural e nascimento das periferias pobres das comunidades.
Periferias urbanas na Colômbia
Dilema para os novos planejamentos:
- Portas fechadas e exclusivo para poucos? OU
- Em processos abertos e participativos das comunidades?
Novo desafio:
transformar os atores sociais em coautores do projeto!
A necessidade de passar do desenvolvimento sustentável à Agenda Cidadã Sustentável
Portanto, e com a intenção de sermos proativos, surgem novos desafios para dar respostas concretas, em termos de sustentabilidade e urbanidade cidada:
É FUNDAMENTAL desenhar uma Agenda Cidadã de caráter sustentável, inspirada nos conceitos do desenvolvimento sustentável, porém, abordando aspectos relevantes para uma comunidade, que foram tratados e definidos no conclave realizado pelas Nações Unidas na cidade de Quito, Equador -2016.
Destaca-se, nesse contexto, a necessidade de recuperar o sentido originário das sociedades.
Projeta-se um lugar de encontro e vínculos sociais, a partir de comunidades habitáveis com caráter equitativo, de ambientes saudáveis, mas também que possam garantir espaços seguros e organizados. Ou seja: promovem-se territórios ocupados de forma leve e com proximidades, que dinamizem a multifocalidade das atividades e a capacidade de resiliência das populações que nela habitam.
Cinque Terre – Itália
Caminho às comunidades habitáveis
+EQUITATIVAS
+SAUDÁVEIS
+SEGURAS
+ORGANIZADAS
+COMPACTAS
+MULTIFOCAIS
+RESILIENTES
Uma nova forma de projetar e pensar nas comunidades, de maneira coletiva e participativa:
DAS ESTRUTURAS CLÁSSICAS FRACASSADAS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
A NOVAS FORMAS DE PLANEJAR, DESENVOLVER, GOVERNAR E ADMINISTRAR AS SOCIEDADES!
Para poder materializar e implementar todos os grandes alinhamentos propostos na nova Agenda Cidadã Sustentável, é necessário pensar numa nova forma de gestão que supere as estruturas clássicas das administrações municipais, que não souberam dar respostas às novas dinâmicas da realidade.
Trata-se de novas maneiras de pensar coletivamente, de desenvolver as propostas, de governar e administrar as comunidades em termos de integralidade urbana. Uma abordagem não convencional por meio de dinâmicas participativas da sociedade civil organizada, em parceria com o poder público, como garantia para dar continuidade das políticas públicas de Estado.
Propor novos mecanismos inovadores de gestão não convencionais: a Agência de Desenvolvimento Integral para um território é o alicerce para uma transformação segura e contínua
Os sintomas da insustentabilidade
Rumo à sociedade bem coletivo
A partir do diagnóstico apresentado pelo novo cenário global, produzimos a ênfase na construção de um novo pensamento, inspirado na construção da comunitária do bem coletivo, ou seja, que priorize o interesse de todos em detrimento do individual.
Nesse sentido, serão detalhados alguns itens que se entendem como prioritários para ir modelando este novo pensamento, com a finalidade de contribuir com o conteúdo baseado numa nova ética do bem coletivo que, por conseguinte, formulem uma nova forma e expressão das socieades
Premissas para uma comunidade do bem coletivo
Sociedade com visão regional
Pensar na comunidade é pensar na microrregião onde está inserida e é entender a região em todas suas escalas (rural, urbana e micro urbana, assim como extra urbana quando se projeta fora dos limites do próprio município).
Tudo está relacionado e, portanto, é relevante a estratégia de projetar o território de maneira integrada, sempre pensando na associatividade e complementariedade entre os municípios, com a finalidade de apresentar-se ao mundo como uma região urbana sólida e consolidada que seja mais cooperativa no seu desenvolvimento integral.
Portanto, temos que pensar globalmente, projetar a microrregião e agir, com estratégia, no desenvolvimento local
Sociedade de gradientes e da matriz verde
O modelo de gradientes do território (estados gradativos na modelação do território), pretende modelá-lo de forma inteligente e leve; cuidando dos núcleos naturais e culturais, assim como criar, de forma gradativa, áreas de amortecimento destinado a ocupações leves que se apresentem como uma interface com a área de atividades intensas e mistas.
Cada fragmento, seja este de valor cultural ou natural, desenvolve a paisagem quando existe determinada conectividade, que permita de forma integral, a leitura de um contexto territorial unificado
Nestes conceitos, estará centrada a chave para uma modelação espacial de um território, seja ele entre cidades e ruralidade.
Sociedade próxima e multifocal
A forma estratégica de modelar os territórios se inspira numa ocupação leve, de centralidades próximas e autossuficientes que possam permitir a permeabilização do solo e dos visuais da paisagem, em termos de usos não expansivos das áreas naturais a cuidar.
Por essa razão; a organização multifocal de enclaves urbanos que reconhecer fragmentos culturais e naturais de valor identitário, conectados a partir de uma armadura vincular; será a chave de uma nova forma integrada de construir contextos de significado qualitativo.
Sociedade justa, sem excluídos
Mais comunidade e menos casas, trata-se de uma estratégia de propor e construir mais espaços de relação urbana, quando se pensa em vida na sociedade. É claro que as pessoas precisam morar em casas, mas elas, devem ser pensadas em termos de habitat social sustentável, e não apenas como conjuntos isolados que não contribuem de maneira urbanística (espaços de encontro, inclusão, vida humana).
Uma sociedade mais justa é, sem dúvidas, mais equitativa, sem excluídos, com a possibilidade de que todos os habitantes possam acessar a todos os benefícios. Precisamos terminar com o confronto entre setores sociais para construir uma sociedade mais harmoniosa que trabalhe em prol de um cenário de paz e diálogo.
Sociedade educadora e identitária
Quando se fala de uma estratégia de comunidade educadora, não se está referindo apenas à implementação de um modelo educativo formal, senão, a como a sociedade, por meio de seus espaços, pode se transformar numa oportunidade para formar e educar seus habitantes.
A sociedade fala por intermédio de seus espaços urbanos e, portanto, esta questão deve ser entendida como a grande possibilidade que se tem para educar projetando em termos cidadãos, propiciando identidade social, inspirada no patrimônio e nos valores memoráveis da cultura e dos espaços urbanos.
Nesse sentido, quanto mais diversa e mista for a economia, mais oportunidade de empregos se terão, priorizando aqueles que promovam negócios conscientes e responsáveis com seus territórios e sociedades, inspirados em processos sustentáveis.
Sociedade da mobilidade acessível
A melhor estratégia de mobilidade urbana é aquela em que se possibilite o menor movimento possível das pessoas. Esta questão é viável quando se alcança uma organização do território, baseada nas proximidades espaciais (edificações, as mais compactas possíveis), na autossuficiência funcional (serviços, equipamentos administrativos, segurança alimentar) e numa mobilidade acessível para todos os habitantes (infraestrutura e logística da mobilidade e do transporte público, inspirados na sustentabilidade dos fluxos e na equidade social).
Sociedade das energias alternativas
Quando se trata de uma comunidade acessível, tanto nos aspectos urbanos quanto nos sociais, também está se falando numa sociedade sustentável do ponto de vista de novas tecnologias apropriadas a cada território (que não impactem, que não poluam, que facilitem a dinâmica dos fluxos cíclicos de matéria e energias).
Nesse sentido, a promoção de fatores essenciais como a utilização de energias alternativas para a mobilidade e a produção, assim como uma disposição inteligente e racional dos resíduos, serão condições estratégicas que toda sociedade devem ter.
Sociedade do valor agregado
As comunidades que possuem diferenciais, não são apenas aquelas que se consideram ou se inspiram num conceito tradicional da inteligência. Pelo contrário, serão aquelas que sabem aproveitar de forma integral todas suas capacidades, sejam elas as sustentadas pelo seu capital social intelectual como também, pelo seus capitais econômicos e ambientais-ecossistêmicos.
Portanto, a construção, de valor agregado nas sociedade, estará sustentada na promoção de investimentos estratégicos nos seus espaços urbanos, preferentemente de valor patrimonial (natural ou cultural), mas também na promoção de lideranças sociais público-privadas, nas estratégias de conectividades entre seus núcleos urbanos e , por último, na decisão de propiciar linhas de pesquisas e conhecimentos adequados e compatíveis com as potencialidades de cada comunidade.
Conclusão
Os alinhamentos apresentados pretendem ser eixos ou premissas fundamentais para ir construindo a comunidade do bem coletivo, inspirada em uma Agenda Cidadã.
O desafio é grande, mas a convicção para transitar neste caminho é firme e persistente.
Partilhamos essas ideias, sustentadas em todo um trabalho e experiências projetuais de quase 40 anos de atuação.
Sempre, entendendo que se trata de um pensamento em construção que deve ser revisado e alimentado permanentemente.
Trata-se de um posicionamento filosófico, a partir de uma caminhada que deve ser conjunta e em benefício das sociedades, que dia a dia, devem ser mais democráticas e equitativas.